Mostra Itinerante de Cinemas Negros Mahomed Bamba fortalece cenário audiovisual soteropolitano com exibição de filmes negros

Última edição da mostra aconteceu no Goethe-Institut, no último domingo (18), com premiações e apresentações musicais

por Andressa Franco

Foto: Ema Ribeiro. Disponível em: https://www.facebook.com/MostraDeCinemaMahomedBamba/photos/a.435813987031803/442461806367021/?type=3&theater

A Mostra Itinerante de Cinemas Negros Mahomed Bamba (MIMB) se encerrou ontem (18/08), com uma cerimônia de premiação e apresentações musicais no Goethe-Institut, no Corredor da Vitória, em Salvador. Segundo Kinda Rodrigues, uma das seis coordenadoras de curadoria internacional da MIMB, mais de 3.000 pessoas estiveram presentes durante os cinco dias do evento que percorreu dez bairros diferentes de Salvador com 250 filmes inscritos e 70 exibidos ao total, entre longas e curtas metragens de ficção, documentários, animações e obras experimentais.

Com uma proposta de atingir bairros populares e periféricos, a mostra exibiu produtos audiovisuais negros nacionais e internacionais com o objetivo de desconstruir os estereótipos que marginalizam a cultura negra. “Eu sou preta. Então, esse é um ambiente com informações que me interessam bastante. Acho que toda a população de Salvador deveria participar, os projetos que essas meninas desenvolvem são realmente voltados para que o povo preto se enxergue e acredite que é possível que nós sejamos protagonistas da nossa própria história, porque a nossa história está sendo contada por outras pessoas”, disse Maria de Fátima, gestora de RH.

A produção da MIMB contou com o trabalho de mais de 50 profissionais, muitos destes voluntários, como é o caso de Caroline Candeias, monitora de produção do evento que se encantou com a perspectiva de a Mostra levar o cinema para a periferia. “A gente acredita nesse trabalho e sabe que toda construção midiática é de isolamento, de invisibilizar os nossos corpos, a nossa história, a nossa cultura. Então, a gente desenvolveu um trabalho utilizando a nossa cultura, a nossa história, os nossos feitos, é assim que começamos a enxergar novas óticas e possibilidades de desconstrução de uma sociedade machista, homofóbica, racista e classicista”, pontuou Caroline. 

O quinto e último dia da MIMB também contou com a exibição do filme “1798 Revolta dos Búzios”, do diretor baiano Antônio Olavo, que participou da mostra. Após o longa-metragem, Olavo respondeu perguntas da plateia e contou sobre a construção do seu trabalho nesse projeto. “Hoje é um momento muito difícil, há um genocídio contra a juventude negra no Brasil e na Bahia e é difícil trabalhar com isso. Essa juventude não tem culpa. Eu busco trazer essas histórias do passado para que as pessoas fortaleçam suas estimas no presente. Tendo a estima focada no presente, elas têm mais condições de lutar e construir um futuro melhor para todo mundo”, afirmou o diretor.

Edições futuras

A equipe de curadoria do evento já faz projeções para a terceira edição, com o objetivo de proporcionar uma mostra com maior alcance entre os bairros periféricos. “Nossa perspectiva no ano que vem é que possamos ter maior apoio, afinal, somos uma mostra auto-organizada, a gente não conta com apoio de edital, não conta com apoio governamental, não conta com apoio financeiro, patrocínio nenhum. A gente faz isso a partir de parcerias que a gente estabelece.”, disse Rodrigues. 

Desde a abertura, foi divulgada uma campanha de financiamento e arrecadação para o projeto. A finalidade da coordenação é realizar a terceira edição no próximo ano, a partir da estrutura que a mostra demanda. A equipe está empenhada em trazer mais filmes nacionais, internacionais e ocupar esse espaço com êxito, tanto na questão da curadoria e exibição dos filmes quanto na questão de estrutura da mostra.

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